Menos de 24h depois da Câmara dos Deputados extinguir o 14º e o 15º salários, o movimento
 para que aconteça o mesmo na Assembleia Legislativa da Bahia ganhou 
força e, por enquanto, parece contar com o apoio da maioria dos 
deputados.
Em sessão realizada nessa quinta-feira (28/2), diversos 
parlamentares se posicionaram favoráveis à mudança, porém, segundo o 
presidente do Legislativo, deputado Marcelo Nilo (PDT), há a necessidade
 de apresentação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), com a 
assinatura de 21 deputados. “Particularmente, eu sou favorável para que 
acabe, agora tem que ser via emenda à Constituição”, explica o 
pedetista.
O tema une deputados de governo e de oposição. Desde o líder da
 situação, Zé Neto (PT) aos oposicionistas Carlos Geilson e Uziel Bueno,
 ambos do PTN. De acordo com a liderança governista, a conversa nos 
bastidores com os colegas tem sido muito positiva para acompanhar a 
situação vivenciada no Congresso Nacional.
O petista aponta que na próxima terça-feira haverá uma reunião
 da bancada para a discussão ampla do tema. “Conversei com muitos 
deputados e eles são favoráveis. Agora não posso adiantar nada. Minha 
posição é para que encerre, agora eu faço parte de uma bancada”, indica 
Zé Neto.
Posição semelhante é adotada pela correligionária dele, Luiza Maia. 
“Precisamos abrir essa discussão aqui na Casa. A retirada dessa regalia é
 também uma forma de aproximar a sociedade do poder legislativo. Vamos 
discutir a proposta na bancada semana que vem e acho que a aprovação do 
fim dos salários vai ser unânime”, defende a petista.
A vice líder do PT acredita que a medida, se acatada, reduzirá as 
despesas da Casa. “Acho que temos uma grande estrutura e o fim do 
subsídio não vai influenciar nos trabalhos. Esse monte de regalias acaba
 nos afastando do trabalhador comum”, completa.
Ferrenho crítico de posturas de deputados governistas, o deputado 
Carlos Geilson também engrossa o coro favorável ao fim das benesses aos 
parlamentares. “Antes da votação na Câmara eu me posicionei, na bancada 
de oposição, favorável ao fim dos dois salários. Agora vejo com bons 
olhos que outros deputados demonstrem o mesmo desejo e assim ganhamos 
força para discutir, votar e aprovar uma Proposta de Emenda à 
Constituição, derrubando esses benefícios”, afirmou Geilson.
Uziel Bueno também bradou pelo fim dos 14º e 15º salários e usou 
argumento semelhante ao da petista Luiza Maia para justificar seu ponto 
de vista.
“O deputado é um representante do povo e deve ter apenas os direitos 
que todo cidadão tem. Se a população recebe até o 13º salário e tem 
direito a 30 dias de férias, então, por que o deputado tem que ganhar 
14º e 15º e, no caso da Assembleia, ter 90 dias de férias? Isso é 
terrível para a imagem da casa, para os deputados estaduais e toda 
política baiana”, critica o deputado, um dos últimos a chegar ao 
parlamento baiano. 
Constrangimento
Mobilizados a partir da intensa cobertura da imprensa tendo como tema
 o final dos 14º e 15º salários, o movimento que tomou corpo no 
Congresso Nacional passa a reverberar no plano estadual e situação 
semelhante caminha para se realizar na Assembleia Legislativa.
Apesar do aparente discurso de bonança dos parlamentares, dispostos a
 abrir mão dos próprios benefícios, o pesquisador em comunicação e 
política Wilson Gomes pondera que existe sim uma reação à pressão da 
esfera pública.
“Não podemos falar em pressão popular, pois não houve uma mobilização
 nas ruas, uma movimentação das pessoas. Houve uma pressão dos veículos 
de comunicação, pois políticos têm medo de colunistas, de jornais. Foi 
uma agenda positiva adotada pela imprensa e que culminou com o 
constrangimento público dos parlamentares”, explica o professor.
Sob a ótica de Gomes, quando há uma visibilidade grande dos temas, 
alguns políticos tendem a comportar-se de maneira diferente do que a de 
costume. “Os políticos virtuosos se tornam mais fortes e os imorais se 
retiram com esse constrangimento público”, avalia o pesquisador.
Enquanto um grupo significativo de parlamentares se posiciona 
favorável ao término dos benefícios, o presidente da Assembleia 
Legislativa, deputado Marcelo Nilo (PDT), admite que a medida não chega a
 ser unanimidade. “Alguns deputados me procuraram no passado, em 
reservado, para pedir que esse assunto não fosse abordado”, comenta 
Nilo.
O presidente, entretanto, acredita que as posições devem ser revistas
 agora. “É possível que a proposta de emenda seja votada em 30 ou 40 
dias após a apresentação. Agora eu não posso prever aprovação. São 
necessários 38 votos”, completa.
O líder do governo, Zé Neto (PT), não fala em posicionamentos 
contrários – “todos os deputados que conversei foram favoráveis” -, mas 
pondera que os parlamentares não podem ser comparados aos demais 
trabalhadores.
“Minha preocupação é para que não haja uma depreciação da classe 
política. Deputado não ganha férias, não tem direito a FGTS. A medida 
corrige uma distorção, mas é bom esclarecer esse outro ponto de vista”, 
ressalta o governista.